quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Divagações sobre o banal e o frustrante

Dizem que escrever é uma boa higiene mental. Talvez isso tenha feito com que eu criasse este blog, quando saí da casa dos meus pais para ir morar em outra cidade. E agora, que estou de volta à rotina da qual eu tanto quis sair, e que acabei conseguindo, até que a vida me sacaneou e me trouxe de volta, por que infernos eu voltaria a escrever nesse espaço criado e abandonado a tantos anos atrás?
Não sei responder. Talvez seja por que hoje, em 1963, Martin Luter King tenha realizado seu tão famoso discurso: "Eu tenho um sonho", e isso tenha me feito refletir sobre os meus.
Aqueles sonhos em que eu estava correndo atrás, antes da vida me fazer voltar à estaca zero, e que agora, parecem estar colocados em uma prateleira muito alta, que eu com minha altura, não consigo alcançar mais.
As tentativas de chegar até eles foram inúmeras, e todas caíram por terra.
Eu não sei quais eram exatamente os sonhos do Luter King, não sei nada, sobre ele. Os meus, já foram muito maiores e mais brilhantes dos que os de agora. Hoje, eles são mais simples, só queria poder fazer, o que vejo as outras pessoas fazendo. Gostaria de poder tem alguma condição de sonhar com algo diferente. Gostaria de poder viajar, como meus amigos viajam. De poder experimentar ir a novos lugares, de poder entrar no restaurante que me der na venta e pedir o que eu quiser, sem que o preço no cardápio seja fator determinante na escolha. Gostaria de poder trabalhar para que eu tenha condições de construir algo, não simplesmente para subsistência de uma mãe doente e dependente, e da irmã, que divide comigo o fardo de ter que viver uma vida que ela não escolheu, mas que lhe foi imposta pelas mesmas circunstâncias que nos impedem de correr atrás do que realmente queremos. Sei que muitas das pessoas que fazem e tem o que eu gostaria de poder fazer e ter, em alguma situação, tiveram que correr atrás, alguns mais outros menos. A diferença entre eu e elas, e talvez, por isso seja difícil para elas entenderem como me sinto, é que além da "força de vontade" elas tiveram um "quê" de sorte inversamente proporcional à minha. Ver como algumas coisas parecem cair do céu, já vir todas mastigadinhas para alguns, e para mim só sobrar o osso.
Eu também corri atrás, eu precisei ralar a bunda por madrugadas, feriados, passar frio, fome, medo, raiva e bem poucas alegrias no meu primeiro trabalho para poder chegar ao segundo degrau, e depois veio o segundo um pouco melhor, mas ainda com o orçamento apertado e a corda no pescoço, depois veio o terceiro degrau, com a corda um pouco mais frouxa, e muitas expectativas de estar trilhando pelo caminho correto, parecia que a escalada iria valer a pena, e me levar onde eu queria ir. E aí veio a vida, com suas surpresas, e me jogou abaixo dos degraus que eu tanto me arrastei pra conseguir subir. Foi triste, mas eu não desanimei, tinha pra mim que não poderia esmorecer, e que de um jeito ou de outro, eu ia fazer acontecer. Mas a vida, sempre estava um passo à minha frente, e ainda insiste em me provar que estava errado. Cada nova tentativa frustrada até hoje, é uma decepção que me pesa, e me deixa mais descrente. Recentemente, um amigo me pediu um Currículo para indicar-me a uma vaga na empresa na qual trabalha, hoje já fez mais de uma semana, e ainda estou esperando por uma resposta, que nunca virá, tal como a vez em que fui entrevistado e saí exalando confiança, não tinha como ser diferente, a vaga era minha! A entrevistadora me disse com todas as letras, é o seu perfil, eu gostei muito de você. Entrevistarei mais algumas pessoas e lhe daremos a resposta dentro de 5 dias. Já se passou 1 ano, mas aquele 5 dia, nunca chegará. Essa é a minha vida. Ela me pune sempre por algo que eu não sei se fiz e se mereço. Ela me mostra um fio de esperança, uma chance mesmo que mínima de acreditar que algo vai mudar, mas o tempo passa e ela sempre dá um jeito de me passar pra trás, e isso tem sugado minhas energias, de uma forma que as vezes me faz pensar, que seria melhor jogar a toalha. E com isso não digo que deseje abandonar a vida, eu não seria tão corajoso. E nem tão dramático, mas mentiria se escrevesse que essa idéia nunca me ocorreu. O fato, é que as vezes, seria melhor aceitar o conselho do Mick Jagger, quando ele diz: 
"You can't always get what you wantBut if you try sometimesYou just might find you get what you need"


Eu preciso de muito menos do que eu tenho. E talvez seja hora de aceitar isso, de entender que os meus sonhos sempre estarão na minha cabeça e que não devem ter a menor pretensão de acontecer.

Quem sabe assim, minha convivência com pessoas de maior sorte, torne-se mais harmoniosa, ou pelo menos raivosa da minha parte, pois a culpa das minhas escolhas erradas, e das peças que a vida me pregou não são deles. Se eles tem razão para acreditar na vida, e celebrá-la, bom pra eles.
Eu sempre penso que talvez seja inveja, despeito, ou egoísmo da minha parte, em alguns raros momentos de frieza, eu concluo a análise como auto-defesa, quando eu procuro me afastar delas, para que elas não precisem se afastar de mim, por eu não poder acompanha-las com o estilo de vida que levam. E as vezes também acho que meu desânimo e falta de interesse em correr atrás de algo melhor, se resuma à minha falta de capacidade de suportar rejeições. Isso acaba comigo. Esse talvez seja o maior dos meus males, toda minha impaciência, ansiedade, e minha boca suja, e o sentimento de estar perdido, sem saber o que fazer ou pra onde correr, devem ser reflexo desse medo de ser rejeitado.
Acho que esse foi o desabafo que eu precisava fazer. Vejamos agora, por quantos anos mais, eu irei abandonar este blog.

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